terça-feira, 22 de junho de 2010
Histórias de amigos...
Joaquim, José e António! Certo dia de uma Primavera já muito longínqua tudo isto se passou na realidade e que me marcou para toda a minha eternidade, pois certo dia estando José e o António a brincar lá no Largo da Praça, actual largo da República, como de hábito, quando se chega junto de nós o Joaquim que nos diz:
- Vamos ver de nós quem é que corre mais e quem chega primeiro à Igreja! Tu, António, vais pelo beco da Firestone, tu Zé vais pela Rua Direita e eu vou pela Rua do Argolinha.
Logo o Zé, como estivesse a adivinhar que algo de muito grave ia acontecer, de pronto diz:
- Eu não vou pela Rua direita, porque por aí passam muitos carros e eu tenho medo de ser atropelado.
Então diz o Joaquim:
- Se não queres ir tu, vou eu pela Rua direita e vais tu pela do Argolinha.
Arrancou logo de seguida não dando tempo sequer de eu partir, coisa que já não fizemos, porque logo de seguida se começou a ouvir gritos e logo compreendemos que tinha acontecido algo de muito grave, tanto que já não fomos confirmar o que tinha acontecido: o nosso amigo Joaquim encontrou a Morte imediata ao virar a esquina, ficando debaixo de um camião e ainda hoje penso se não estava guardado para mim. Já tenho mais de 60 Anos e isso não me sai da cabeça, eu sei que nós todos vamos para lá, mas éramos tão novinhos e Deus não quis que eu fosse nesse dia. Actualmente nessa fatalíssima Rua, já não circulam viaturas, a Câmara condicionou essa Rua a trânsito, só para moradores, e abençoado momento que o fez. Com esta minha história, não tenho intenção de avivar recordações, muito dolorosas, para quem quer que seja, isto são memórias de alguém, que já sofreu muito e que ficou como que uma ferida aberta, estas memórias
J.Vicente
sábado, 19 de junho de 2010
A Viagem: escrever a partir de um provérbio
Graças a Deus só o tubo de escape tinha saído do lugar, coisa que eu logo arranjei, e seguimos viagem outra vez em direcção a Paris. Bom chegando ali à zona do País Basco, sendo já noite e estando um pouco cansado, porque era eu que vinha a conduzir na altura, resolvi parar para descansar, e lá arranjei um lugar acolhedor e um pouco escuro até, nunca pensando no que me iria me acontecer. Estava já eu a dormir dentro do carro, com as minhas pernas sobre as pernas da minha mulher, com ela no banco do pendura e eu no do condutor, e os miúdos no banco de trás tapados com um lençol branco, quando a certa altura, ouvi um grande estrondo, logo a seguir um grito rouco de prazer e malvadez, e em fracções de segundos, vi que esse animal(pois para mim quem me fez isto não era mais do que um animal) vinha já com intenções de dar um segundo golpe na cabeça da minha mulher. Não sei com o fiz, mas consegui me elevar do banco e jogar os meus pés na cara do sujeito, através da janela, porque o sujeito tinha quebrado o vidro. Quando o fiz, os meus pés levaram à frente os vidros que estavam ainda agarrados às borrachas,e ao se sentir ferido largou o utensílio com que tinha partido o vidro e fugiu. Eu saí, vi se o sujeito ainda estava por ali, viu-o ainda a fugir e apanhei-lhe o machado, já que foi com isso mesmo que ele nos atacou e arranquei dali para fora. Trezentos metros à frente, constatei que tinha um pneu furado, bom tive que mudar o pneu. enquanto pensava "Seja o que Deus quiser!", parei o carro, mais tarde vi que não devia ter parado o motor, porque quando eu o ia para ligar, a bateria tinha-se descarregado! Disse eu para a minha mulher " E agora, quem é que vai parar aqui para nos ajudar a estas horas da noite?", porque já eram quatro horas da manhã. Vocês agora dizem "Empurravam o carro, não é?", só que eu parei o carro numa subida e ninguém tinha força para tal. Como eu não podia ficar ali, então aventurei-me a arriscar que alguém me atropelasse, pus-me no meio da estrada a fazer sinal para alguém me ajudar, mas não foi à primeira que alguém parou, porque eu estava numa zona muito perigosa, e todos tinham medo de parar, até que lá uma alma caridosa afrouxou o carro e eu disse-lhe que não era preciso sair do carro, ele encostava o pára-choques dele ao meu e empurrava, e foi o que o homem fez. Para nosso alívio, lá conseguimos sair dali e seguirmos viagem, que na graça de Deus não nos aconteceu mais nada até Paris. a partir desse dia nunca mais parei no País Basco.
Conclusão: E porque o seguro morreu de velho, e quem tem rabo não se senta e homem avisado vale por dois.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
A Laica
Quem era a Laica? Bom a Laica era uma cadela muito meiga, de cor preta, de que raça era não sei, porque na altura em que se passou esta pequena história eu era muito novo e essa questão de raças para mim não existia, desde que me desse a mão e não me fizesse mal e me deixasse brincar com ela era tudo igual para mim. E foi assim mais ou menos, que começou esta pequena história: como sempre e era hábito andava eu a brincar pela praia, rente à Muralha, e nesse dia trazia comigo a Laica do qual eu gostava muito e ela de mim claro, bom quis o destino que, a certa altura me virasse para trás e chamasse a Laica, que se tinha atrasado, só que nesse momento tropecei numa pedra e ajoelhei-me noutra que fez um grande buraco no joelho esquerdo, claro que não chorei, fiquei foi com medo da minha mãe, porque eu sabia que quando chegasse a casa teria que a ouvir ou ainda levar tareia, pois é!
Foi isso mesmo que aconteceu: "Ah, malandro, o que é que tu fizeste? Dois sopapos no rabo e vai-te curar." Por sorte minha, uma vizinha viu-me com a perna cheia de sangue e tratou-me. Por que é que a minha mãe me bateu? Não sei, mas penso que tivesse sido, porque não tinha dinheiro para me levar ao Hospital, para me fazerem um curativo, assim foi mais rápido, "Dois sopapos e vai-te curar". Não é grande história, é apenas algumas memórias em momentos de reflexão e saudades daquele tempo em que eu tinha por companhia uma cadela que se chamava Laica. Tudo se passou em Alcochete, de onde sou natural.
J. Vicente
Natal é quando o Homem quiser
Nós mesmos se quisermos entender, quando o narrador frisa que a frase não tem sentido para ele, penso que isso é relativo à sociedade em que ele ou nós estamos inseridos e ao grau de educação em que ele foi educado, para mim dizer que o Natal é sempre que o Homem quiser, depreendo que isso quer dizer, que para fazemos o bem, não é necessário entrarmos na época natalícia, durante todo o ano, toda a gente tem oportunidade de ajudar a quem mais necessita, nem que seja só uma palavra amiga a quem não tem quem lha dê. Estamos no século XX e apesar de termos melhores regalias sociais do que no século anterior, não nos vamos preocupar pelos outros somente devido à época Natalícia, vamos tentar ser mais atenciosos por quem mais necessita durante todo o ano, mas dando graças a Deus por nos ter enviado o seu Filho para nos ensinar a bondade e a boa vontade de ajudar o próximo.
Vamo-nos preocupar mais com os idosos que estão sós, abandonados, por vezes em "Lares" que não têm as condições mínimas para saborearem o resto das suas vidas com dignidade e um pouco de afecto; vamos olhar também para as crianças abandonadas e para os sem -abrigo, vamos fazer que seja Natal todo o Ano, e não só na época natalícia.
09-01-2010
J. Vicente
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Na época dos que nada tinham: a História do Meu Avental.
A avó tinha apenas uma pobre casa a onde vivia, e duas pequenas fazendas das quais tirava a sua sobrevivência, na horta aonde havia um poço com água cultivava alguns hortícolas, mas nem sempre havia. Certo dia, recordo-me bem, chegou a casa já noite de Inverno, olhou em volta e disse em voz baixa: "O que é que vamos comer?". De aparência não havia nada, mas de repente fez uma pequena fogueira, pôs a trempe e em cima uma sertã com azeite, descascou umas batatas e fritou-as: nunca comi batatas fritas tão boas.
Na mesma aldeia viviam também os avós paternos: a avó Inácia e o avô António.Tiveram 8 filhos, o mais novo tinha 3 anos a mais do que a neta.
O avô António era cavador, trabalhava de sol a sol, excepto ao Domingo, a avó Inácia tinha que fazer tudo, e tratava da sogra que com a avançar da idade perdeu a visão, movimentava-se com muita dificuldade. Eram muito pobres.
Enquanto a neta brincava com o avental da avó, ela cozia à mão a roupa da casa(da família). Certo dia, a avó Inácia arranjou um bocadinho de tempo, mais um bocadinho de riscado que sobrou da camisa do avô António e fez um pequeno avental e colocou-lhe um bolso, duas fitas do mesmo tecido e foi pô-lo na cintura da neta. Que dia tão feliz! Querida Avó, mãos tão calejadas e leves! Pareciam mãos de fada.
A bisavó que mesmo invisual não perdeu o sentido das coisas, com alguma dificuldade levantou-se e o que fez? Foi a um saco que tinha perto si e tirou de lá uns figos secos e umas amêndoas, com que encheu o pequeno bolso: que figos tão bons, e que amêndoas tão deliciosas.
Sobre estas histórias, 74 anos passaram. Muitas vezes choro e recordo-me com muitas saudades das minhas batatinhas fritas, dos figuinhos e do avental! Porquê? Porque tudo isto era de marca, não eram as batatas da PALA PALA nem os figos da Turquia, nem o avental da BENETTON, ou qualquer outra marca comercial, mas tinham uma marca.A marca do amor da ternura e carinho com as avós fazem as coisas para os seus netos.
Por tudo isto eu choro cm saudades dos meus "FIGOS" das minhas "BATATINHAS" e do meu AVENTAL.
Josefina, 74 anos
As festas tradicionais - Páscoa
Em tempos idos, eu era jovem e tudo para mim era brincadeira.
Bom, nesses tempos idos era costume em Alcochete no Sábado de Aleluia, quando acabava a Missa, os rapazes andarem pelas ruas da Vila com um bate folhas, e ao mesmo tempo fazia-se a queima do Judas.
O que era o judas? O judas era um boneco de palha que as pessoas faziam com roupas velhas, e penduravam-no no centro das Ruas, e depois à meia noite deitavam-no fogo.
O que era um bate folhas? Eram um conjunto de folhas flandres, que os rapazes achavam na praia ou, aonde houvesse, a seguir atavam umas às outras, até ter por comprimento, 4 ou 5 metros, era puxado por dois rapazes à frente, com um pau atravessado e levando atrás um rancho de rapazes a bater com paus e, quanto mais barulho fizessem, melhor, assim era a tradição aqui em Alcochete. Por vezes acabava mal, as latas desprendiam-se, e havia quem caísse em cima delas, e havia joelhos feridos e por vezes muito mais.
É uma pequena tradição que eu penso que está outra vez a ser revivida.
J. Vicente